Em Novembro de 2006, o Laughbanging foi entrevistado para o blog de heavy metal Metal Incandescente.
Aqui fica a entrevista realizada pelo músico/jornalista/escritor Dico.
"LAUGHBANGING" A RIR ÀS GARGALHADAS
Metal e humor não combinam? Deve o Som Eterno remeter-se a uma postura de inflexível seriedade? Paulo Rodrigues e Gustavo, stand-up comedians e fundadores do nem sempre compreendido blogue "Laughbanging" rejeitam estas ideias numa entrevista divertida mas incisiva. Como não podia deixar de ser.
Ambos fazem stand-up comedy. Desde sempre se sentiram atraídos pelo humor (e por este formato específico de fazer rir) ou é uma paixão recente?
Paulo Rodrigues – Eu comecei a interessar-me pelo humor desde que os Limp Bizkit lançaram o seu primeiro álbum.
Gustavo – Confesso que a recente descoberta do stand-up em Portugal veio intensificar uma "paixão" oculta por este formato. Mas, apesar de apenas recentemente termos começado a fazer stand-up, isto da comédia já vem de há muito tempo. Eu, quando nasci, em vez de chorar, ri-me.
Têm alguma fonte de inspiração favorita ou qualquer aspecto quotidiano pode resultar na escrita de um novo sketch?
G – Tudo na vida é passível de gerar um sketch. Responder a esta entrevista dava um sketch.
PR – Fonte de inspiração? Novamente, o álbum de estreia dos Limp Bizkit.
De que forma trabalham o vosso material? Adequam-no ao perfil do público que irá ver-vos?
PR – Não, não adequamos as nossas piadas ao público. Se as pessoas gostarem tudo bem, caso contrário que se lixem. Não comprem os nossos CDs. Não vamos vender-nos por nada.
G – Quero dizer... com umas cervejolas, se calhar até ía lá. Bom, mas acerca da forma como trabalho o meu material... Muitas vezes, a meio da noite tenho uma ideia para um riff de uma piada. Nesses casos, pego imediatamente no bloco de notas e no microfone e gravo-a. No dia seguinte, componho a piada na pauta mais pormenorizadamente.
Reparei que as vossas agendas estão razoavelmente preenchidas no que se refere a espectáculos. É simples fazer stand-up comedy em Portugal? Existe um circuito que facilite a realização de eventos?
G – Eu diria que é mais fácil aprender a tocar Meshuggah em reverse do que fazer stand-up comedy no nosso País.
PR – Circuito? Já diziam os Celtic Frost: "Circle of the Tyrants." Em cada bar há um tirano.
G – Não existe circuito para estes eventos. Por vezes, assemelha-se ao Underground, pois temos que actuar em buracos podres.
PR – ...Com a diferença de que não há feedbacks.
Em Portugal os artistas de stand-up comedy sentem-se apoiados? Existem patrocínios ou iniciativas de mecenato?
PR – Não! O meu pai sempre me disse que fazer piadas é coisa do diabo, que é algo sem futuro.
G – O único "apoio" que tenho nos espectáculos é a cerveja. Ainda por cima tenho de a pagar. Eu é que "patrocino" a cerveja que bebo.
PR – Agora a sério: fomos nós que demos nome ao primeiro álbum dos Napalm Death – Scum. É isso mesmo que nós somos.
Fenómenos mediáticos como "O Homem Que Mordeu o Cão" e "Gato Fedorento" escancararam as portas a toda uma nova geração de humoristas em Portugal. Inclusive, surgiram bem sucedidos programas televisivos de humor, como o "Levanta-te e Ri", que proporcionou alguma visibilidade a talentos emergentes. Por outro lado, eventos como o festival RIR vieram também dar um novo fôlego a todos quantos ambicionam profissionalizar-se nesta área. Sendo assim, como vêem o humor actualmente feito em Portugal? Reconhecem, de facto, talento a alguns dos artistas mais mediáticos ou ainda há que separar o trigo do joio?
G – Mais uma vez, comparo este meio ao do Metal. O stand-up comedy tornou-se uma moda, é algo que muitos querem fazer. Há imensa gente sem talento, mas também existem muitos comediantes talentosos. Daqui a algum tempo, só os melhores irão prevalecer. (Isto parece uma qualquer letra dos Manowar: "Only the best... will prevail! Hail and fight! Yááááááá.... cof, cof...áááá.").
PR – Sobre a comédia em Portugal, já diziam os Carcass: "Reek of Putrefaction", apesar de existir um conjunto de pessoas que considero os Mike "Portnoys" da comédia.
Falem-me agora do "Laughbanging". Como surgiu a ideia de fundarem um blogue com estas características?
G – A ideia foi do Paulo.
PR – Bom, eu estava a ouvir uma demo-tape dos Dinosaur...[NR.: Referência ao facto de este vosso escriba ter sido baterista dos Dinosaur, entre 1990 e 1992).
Que recepção teve o projecto? Os fãs de Metal gostaram ou nem por isso?
PR – A reacção foi a mesma que as pessoas têm normalmente em relação a um álbum dos Anal Cunt: houve quem adorasse e quem odiasse. Algumas pessoas desiludiram-nos ao ponto de termos ponderado colocar um fim prematuro ao projecto, mas os Carcass sempre falaram de nados mortos e acabaram por gravar cinco álbuns...
No Metal o humor escasseia?
PR – De modo algum, há os Limp Bizkit, os Deftones, os Ill Niño...
G – Um pouco. Citando o Dee Snider, [vocalista] dos Twisted Sister, num documentário: "Heavy Metal e sorrisos não combinam." Mas uma coisa é a postura em palco dos músicos que, na maior parte das vezes, é séria; outra bem diferente é o seu comportamento fora do palco, ambiente no qual são, muitas vezes, extremamente extrovertidos e divertidos.
Que projectos são os vossos para 2006, quer no âmbito do blogue quer fora dele?
G – Colocar, pelo menos, mais um post no blogue e estarmos vivos.
PR – "Sacar" a discografia completa dos Agathocles.
G – Sermos entrevistados pelo António Freitas em inglês.
PR – Acabar de ouvir o primeiro álbum dos Desire (comecei no ano passado).
G – Ter piada.
PR – Actuar no Rock in Rio.
PR/G – Enfim, sermos felizes.
04 fevereiro, 2015
Metal Incandescente entrevista Laughbanging (Novembro 2006)
à(s) 19:15
Etiquetas: entrevista, entrevista-laughbanging, metal incandescente
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