14 junho, 2015

Laughbanging entrevista Jorge Caldeira

Quem é Jorge Caldeira? Então, lembram-se do "Jogo da Mala" com António Sala na Rádio Renascença? Pois, não tem nada a ver! Jorge Caldeira é mais parecido com um Júlio Isidro do Heavy Metal, tantas foram as bandas que já passaram por ele. Ele é radialista há 30 anos a emitir desde a Margem Sul programas de rádio onde passa 100% de música portuguesa (desde o rock ao heavy metal). Jorge Caldeira apoia mais a música portuguesa numa emissão do que o Ministério da Cultura numa década.
Aqui fica a entrevista para o conhecerem melhor.


Quando estavas a começar, qual o radialista que mais te influenciou? John Peel? António Sérgio? Jorge Perestrelo?
Gostava de ouvir o António Sérgio, sem dúvida um dos nomes grandes e inesquecíveis da rádio. Mas o Rui Pêgo... acho que foi a minha principal referência.

Trabalhaste muitos anos numa rádio de Palmela e depois mudaste para uma em Pinhal Novo, também em Palmela. Em que outra freguesia de Palmela te vês a trabalhar daqui a 10 anos?
Muitos anos na Pal FM (hoje, rádio do grupo SIM). Foram 13 anos, de 1990 a 2003. Gosto do número 13! Na Pal FM fui colega da Ana Arroja (Rádio Comercial) e de Lídia Cristo (Antena 1).
Antes, estive no Rádio Clube da Moita, na Moita, onde trabalhei como pivot de programação e jornalista.
Trabalhei com Vanda Miranda (Rádio Comercial) - a Vanda começou como repórter de exteriores e só mais tarde como animadora - e outras gentes que hoje são vozes conhecidas na rádio e que também passaram pela célebre Super FM.
A POPULARFM é uma rádio do Montijo. Tem os estúdios no Pinhal Novo, Palmela. Apesar de ser uma frequência da cidade mais limpa do país (porque todos os dias se matam porcos!), nasceu na vila do Pinhal Novo e aí se localizou até hoje. Por isso está associada a Palmela...
Mas o meu início foi mesmo na rádio da Escola Secundária da Moita, das 12h30 às 14h30, às terças e às quintas. Só com bandas nacionais. Era amadorismo puro, mas com muita paixão. Isto em 1985. Em 1986 fui para o Rádio Clube da Moita e em 1990 para a Pal FM. De 2003 a 2006 estive no repouso e regressei nesse ano a convite de Inga Oliveira (Rádio Amália), com quem tinha trabalhado também no Rádio Clube da Moita e que na altura era coordenadora na POPULARFM.
Daqui a 10 anos... se a POPULARFM ainda existir, será aí a minha residência radiofónica. Porque não?

Com certeza que recebeste milhares de demo-tapes de bandas muito inexperientes a pedirem divulgação na rádio. Quantos copos de vinho é que tiveste de beber para arranjar coragem para passar essas demos na rádio?
Como não aprecio vinho, a não ser do bom, e as demo-tapes não eram compatíveis, nem suficientemente generosas como um bom licor (que aprecio bastante, principalmente anis!), tinha a vantagem de passar esses inesquecíveis registos magnéticos da seguinte forma: passava o dedo pela língua e depois nas fitas (as cassetes de ferro eram as que tinham pior sabor). Assim, as fitas deslizavam mais depressa no leitor de cassetes, o que disfarçava tudo. As malhas eram mais rápidas e o som tinha mais brilho, melhorando a sua qualidade. Portanto, todas essas demos têm as minhas impressões digitais. Talvez por isso dissessem na altura que eu já tinha dedo para a rádio. Como diz o provérbio: "Enquanto houver língua e dedo, não há demo-tape que meta medo!". Era preciso mesmo coragem! Um gajo tinha de meter o dedo em todas...

Tendo em conta que já entrevistaste centenas de bandas, algumas com registos sonoros de qualidade duvidosa como “rehearsal tapes”, por exemplo, podemos ver-te como o Daniel Oliveira do metal, mas da baixa definição?
Quem é o Daniel Oliveira?
Mas a baixa definição era o que dava mais tesão! Imagina ouvires cenas com qualidade brutal e, de repente, pelo meio um som de qualidade duvidosa? De certeza que vais fixar essa cena porque é diferente.
Quem é o Daniel Oliveira?
É como teres uma gaja toda produzida. Depois de lhe tirares os artificiais todos, vais ver que fica igual às outras. E aí vais querer a baixa definição; ou seja, ficar por baixo.
Quem é o Daniel Oliveira?

Para muitas bandas, a primeira vez que estiveram num estúdio de rádio para uma entrevista foi num dos teus programas. Foi difícil mantê-los quietos? Chegaste alguma vez a sentir que estavas num jardim de infância?
Eh pá!, há coisas que não esqueço! Imagina uma banda de black metal aparecer-me como se fosse para um concerto? E eu a dizer-lhes: "Então, isto é rádio, não é televisão." É verdade, houve muita gente que deu a sua primeira entrevista em rádio comigo. Mas como não preparo as entrevistas, a malta vai conversando e divagando. Mas há uma coisa curiosa: é que a dificuldade, nalguns casos, não era mantê-los quietos, mas sim pô-los a mexer (não sei se me faço entender).

O que achas que existia nos anos 80 que faz falta nos dias de hoje, e em sentido contrário, o que achas que existe hoje mas que não faz falta nenhuma, seja lá em que ano for?
Conhecimento. Nos anos 1980 havia mais conhecimento sobre tudo porque a malta interessava-se pelas coisas e convivia mais. Discutia-se tudo. Trocava-se ideias e opinava-se sobre qualquer assunto. Às vezes mal, mas o importante era ter uma opinião pessoal. Pensar.
Hoje, ignorância. É uma praga cerebral. A malta não consegue pensar por si, formar ideias... agarra-se ao computador - que apesar de ser uma excelente ferramenta de trabalho, tem de ser bem usado - e devora todo o lixo que encontra. E porquê? Porque tem falta de raciocínio para filtrar o que é importante. A ignorância, hoje, como em qualquer outra altura, é prescindível. Não faz falta nenhuma. Mas as políticas para o ensino em Portugal (e noutros países) são propositadas nesse sentido. Quanto maior a ignorância, mais facilmente se domam gerações!

Se fosses radialista no pré-25 de Abril, que música de Heavy Metal escolherias para servir de senha à revolução?
"Smoke on The Water" (Deep Purple) ou "Paranoid" (Black Sabbath), mas como tinha de ser algo nacional, certamente teria escolhido "A Guerra de 1908", de Raul Solnado, de 1962. Porquê? Porque é perfeitamente adequado ao que se  passou no 25 de abril de 1974. E a malta ainda hoje se riria com aquele que foi o maior humorista português. Basta olhar para trás e recordar o que aconteceu e o que aconteceu desde então. Só de imaginar o Solnado todos os anos no 25 de abril a ser recordado com o seu humor caraterístico perfeitamente enquadrado nos tempos atuais... seria hilariante!!! É uma pena as pessoas não saberem lidar com a liberdade e aproveitar o que a Democracia tem de bom.

Tens saudades de usar cassetes audio na emissão?
Só não uso porque não existe um leitor de cassetes. Assim como o vinil. Não há pratos em estúdio. Hoje em dia a malta só trabalha com PCs e "coisas" que passam música no formato digital, o que detesto. Continuo a trabalhar com suportes físicos, mas limitado ao CD. 99% do que passo é em CD. Raramente passo algo no formato digital. Só quando não há alternativa. Por isso, tenho saudades das cassetes e do vinil. O gosto em passar-lhes o dedinho... o som quente, orgânico, mais encorpado... enfim, imagina o que é teres uma mulher no formato digital e uma mulher no formato físico? E acho que elas pensam o mesmo...

Max Cavalera disse há pouco tempo que não gosta de tomar banho. Posto isto, o que preferias? Entrevistar o Max num estúdio fechado, em pleno pico do verão, e logo após ter dado um concerto ou passares uma tarde inteira de domingo a ver o “Portugal em Festa”?
Pergunta difícil... Primeiro porque o Max Cavalera dava uma boa entrevista, com cheirinho. Segundo porque o Portugal em Festa tem umas imagens muito interessantes... paisagísticas, gastronómicas, anatómicas... Bom, ficava-me pelo Max Cavalera porque era uma oportunidade única.

Passas várias horas na rádio todos os Domingos à noite. Para além de bifanas e coiratos, qual a tua alimentação nesse período enquanto trabalhas?
Acertaste!!! Bifanas e coiratos. E uma mini preta. Está feito!

Últimos comentários:
O programa tem algumas caraterísticas interessantes:
1º Chama-se Catedral do Rock (Ut Praesset Nocti) em homenagem à mais carismática sala de concertos lisboeta: Rock Rendez-Vous. Ut Praesset Nocti foi acrescentado para distinguir esta catedral de tantas outras...
2º É um programa de autor e com liberdade de expressão, sem preconceitos e censura, mas respeitando os limites da liberdade, no qual pretende-se criar um espaço que resulte numa simbiose musical rock/metal, em que o seu verdadeiro espírito esteja encarnado e respire sem apreensão.
3º O programa divide-se em 2 horas: 1ª O Rock Puro e Duro; 2ª O Metal de Portugal. A 2ª hora, O Metal de Portugal, é única em Portugal porque não existe (e julgo que nunca existiu, com exceção do V Império, também da minha autoria na Pal FM) uma hora de rádio apenas dedicada ao género só com bandas nacionais;
4º É aos domingos à noite, das 22h00 às 24h00 (em 90.9 FM para o distrito de Setúbal e Grande Lisboa e em  www.popularfm.com), pelo facto de nesses dias e a essa hora os músicos raramente tocarem ou ensaiarem e terem mais disponibilidade para as entrevistas; o mesmo acontecendo com os ouvintes porque segunda de manhã é dia de trabalho ou de escola. E como a POPULARFM é uma rádio específica que só divulga música portuguesa ou de expressão portuguesa (pimba, pimba), sabe tão bem chegar ao 7º dia e fazer uma desintoxicação musical;
5º A POPULARFM fica mesmo ao pé do cemitério velho do Pinhal Novo. Portanto, um sítio tranquilo com o ambiente naturalmente perfeito para um programa do género;
6º A seguir à Catedral do Rock (e ao Metal de Portugal) vem um programa religioso noite dentro da autoria da IURD. Eu costumo dizer: "Haja Deus! Alguém que pague isto!".


Alguns programas radiofónicos de sua autoria:
V Império, HardFM, Catedral do Rock

Página oficial:

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